Motorista da Coleta Orgânica da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), Wemerson Wilson Lindolfo, de 43 anos, mais conhecido como Bocão, não é do tipo que se cala diante de ataques racistas. Há cerca de dois anos, quando trabalhava como coletor, foi alvo de discriminação por parte de um morador do Jardim Colorado.

“Um senhor queria que eu pegasse um monte de papel solto e picado na lixeira. Falei educadamente para ele colocar tudo numa sacola para recolhermos depois. Ele ficou nervoso e respondeu que “tinha que ser preto mesmo para fazer um serviço desse”, relembra. O trabalhador conta que, apesar da indignação, não perdeu a calma diante do ocorrido.

“Falei para ele que aquilo era racismo e que era um crime. Ele deu de ombros e fechou o portão”, relata. O funcionário afirma que não levou a ofensa para o coração e até já perdoou o agressor, ainda que ele não tenha conhecimento disso.

“Quando a pessoa me chama de negro, me sinto é elogiado. Serviço de preto, pra mim, é serviço bem feito, porque procuro fazer o melhor possível. Tudo o que a gente faz na vida tem que ser com amor, carinho e dedicação”, destaca Bocão, cujo trabalho é motivo de orgulho para a família toda.

“O meu filho Kauan era pequenininho e um coleguinha na escola tentou ofender ele dizendo que o pai dele era lixeiro. O Kauan respondeu: ‘É, meu pai é lixeiro, ele deixa a cidade limpinha. Já pensou como seria a vida do seu pai se não fosse o meu?’. A professora ficou admirada com a resposta e eu também”, diz Bocão, orgulhoso do filho.

O motorista acredita que expressões carregadas de preconceito como “serviço de preto” e “lixeiro” são aprendidas por muitos ainda na infância. “Educação vem de berço também. Tudo o que os pais falam, as crianças passam adiante e muitos pais são preconceituosos sem perceber. Precisamos quebrar esse ciclo”, reflete.

Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) Prefeitura de Goiânia