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MENSAGEM DE BOAS VINDAS
A alegria de ser criança quando as pressões do cotidiano nos obrigam a sermos maduros, sérios, objetivos, rápidos, racionais, informados, conectados, concretos e virtuais ao mesmo tempo... nos devolve a certeza de que a contradição com beleza da esperança, da liberdade, da ingenuidade, da fé, dos sonhos é possível quando nos colocamos descalços no caminho de um ideal, desnudos na certeza de uma conquista, risonhos com amigos encontrados, brincantes com as estratégias propostas... pois no ser criança, brincar é coisa séria! E para o ser adulto também! Afinal, quem disse que não somos ainda um pouco daquela criança que os anos nos obrigaram a guardá-la dentro de um esquecido baú de brinquedos? Por isso somos convidados a repensar nossos paradigmas, seja como pais, como filhos, como profissionais, como pacientes, como usuários, como cidadãos. Mas acima de tudo como cuidadores. Temos que nos manter cientes de que o Ser é uma dimensão inteira e dialética, que não permite dicotomizar o homem em categorias. De que apesar de exercermos papéis distintos, modificáveis em nossas vidas, somos todos seres que, enquanto inteiros, ao mesmo tempo somos partícipes de uma unidade maior. Acima de tudo, somos vocacionados ao bem. Sim! No bem reside a nossa vocação! Congruente com esse pensamento está a proposta fundante deste projeto: reunir e unir as diversas instâncias ligadas à infância, fortalecer a rede de apoio a esta população, proporcionar discussão permanente dos temas alusivos à criança, não com um foco alheio de Mim, pertencente ao Outro órgão ou Àquela instituição, mas Em Mim, que somado à Você, resulta no que Nós podemos fazer valer a pena: nos envolvermos e comprometermos e mais que isso, nos entranharmos no complexo, vasto e dinâmico mundo crescente que a gente também faz parte: o da infância.
Sejam todos muito bem vindos a esta História de Verdade, da qual personagens de Verdade habitarão nossos corações por ligeiros três dias, dos quais o Dia Seguinte das ações concretas poderá se perpetuar no compromisso com essa Gente Crescente!
KELEM DARC SANTANA
Presidente do evento
POEMA: SER GENTE CRESCENTE
(Kelem Darc Santana)
Gente
Ser gente é...
... antes do começo,
Ser criança!
É tocar, cheirar, ouvir, ver e falar...
Mas é, antes da fala,
O balbuciar
É caminhar
E antes do caminho,
O poder cair,
O querer se levantar
E contar com quem nos mostre a direção
É sonhar e acreditar
É sofrer também...
E quem disse que criança não sofre?
Mas acima de tudo
Crescer!..
Crescente
Crescente como a fase da lua
A lua que está sempre ali...
Sua cor indefinida
Sua forma sempre mutável
Seu cheiro inalcançável
Seu silêncio instigante
Sua falta quase imperceptível...
Mas na certeza de que está sempre ali...
Prateando as noites escuras
Iluminando caminhos incertos
Sendo fiel mesmo àqueles que a ignoram
Perseverante apesar das pesadas nuvens da tempestade...
Mesmo que eu não a alcance,
Eu sei, ela está sempre ali,
Como quem cuida de mim
Gente Crescente
E eu quero sim,
Ser gente que cresce em mim!
GENTE CRESCENTE
O Seminário Gente Crescente é um evento anual promovido pelo Capsi Água Viva, da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia-GO, inscrito no Ministério da Saúde desde 2000 para atendimento psicossocial a crianças e adolescentes com transtornos emocionais e comportamentais, moderado a grave, e respectivos familiares, e a vítimas de abuso físico e sexual. O III Seminário deste ano discutirá o tema Infância: Brincar é Coisa Séria a partir de palestras temáticas; de mesa redonda; e de pôsteres. A data programada é do dia 11 a 13 de abril de 2007 no auditório da Câmara Municipal de Goiânia.
Terá como público-alvo estudante e profissionais que atuem na área da infância e usuários da rede de atendimento infantil da saúde, cultura e educação municipal. O seminário abarcará dois outros eventos: a IV Reunião do Fórum Goiano de Saúde Mental Infanto-Juvenil, fruto do último seminário, que segue as diretrizes do Ministério da Saúde principalmente no que se refere a intersetorialidade, tendo nesta edição o tema: construindo a rede de atendimento infanto-juvenil; e oficinas voltadas para crianças, a saber: oficinas lúdicas (arte-terapia, sucata, criatividade, circense e de estória), e assembléia (bate-papo).
O referido evento tem como objetivos (a) disseminar a discussão junto com a comunidade sobre o sofrimento psíquico na infância e como inserir os usuários de atendimento de saúde mental na sociedade; (b) iniciar a discussão sobre a efetivação da rede de atendimento à infância e adolescência integrando os profissionais de saúde, de educação, de cultura e esporte, os gestores municipais e estaduais, gestores de direitos e garantias legais, comunidade, entidades de direitos, conselhos profissionais, entidades de ensino, usuários e familiares; (c) promover o intercâmbio entre as instituições de saúde e ensino, público e particular, a partir do relato de experiência; (d) incrementar a parceria ensino-serviço; (e) fortalecer a reforma psiquiátrica implantada pela União e, por conseguinte, viabilizar o Projeto de Volta Pra Casa, advindo da reforma; (f) otimizar a rede pública cuidadora dos transtornos mentais na infância e juventude; e (g) criar um espaço cientifico para discussão do tema abordando o papel da brincadeira como fator de proteção à saúde ao promover o desenvolvimento emocional, social, cognitivo e moral na infância.
Tendo modelo clínico anterior provando-se insuficiente no trato do portador de distúrbios mentais, foi preciso encontrar novos caminhos para esses cidadãos. Com o modelo clínico ampliado, multi e interdisciplinar, passou-se a pensar na possibilidade de prevenção das mesmas pela inserção social. Passadas as crises, o interno era devolvido à comunidade sem que tivesse papel definido, provocando rejeições, revitimizações e práticas discriminatórias, terminando por gerar novas crises, num moto-contínuo tão oneroso quanto ineficaz. E de suma importância convocar a sociedade civil a participar mais ativamente do processo de desistitucionalização implantado. A adoção de práticas mais humanizadas no trato do portador de transtorno mental foi demanda social crescente, crítica das práticas antigas, com respaldo de entidades de direitos humanos. No que se refere à população infanto-juvenil este processo engloba não só a desistitucionalização, como a manutenção na escola e na família, e exige um saber ainda mais especializado e abrangente. Os dados divulgados pela OMS (2001) são alarmantes. Estima-se que de 10% a 20% de crianças e adolescentes sofrem de problemas emocionais severos e precisam de tratamento. Sabe-se que, menos de 20% destes recebem alguma assistência, que em torno de 80% procuram atendimento clínico não especializado com queixas físicas, e que em muitos transtornos a média de idade de início da doença é de 13 a 25 anos, ou antes de 7 anos. Além disso, estudos apontam que um transtorno mental na infância e na adolescência, mesmo que transitório, pode levar: (a) a maior predisposição de transtornos mentais na fase adulta, incluindo abuso de substâncias; (b) a baixa auto-estima; e (c) a dificuldades de competência social e acadêmica. A compreensão e intervenção dos transtornos emocionais, neste período da vida, são, contudo, complexas por envolver uma extensa gama de dificuldades e de variáveis, o que exige uma rede de atendimento efetiva e articulada, capacitação dos trabalhadores para o atendimento ágil e efetivo, para a inserção do usuário na comunidade, e para aumentar os fatores de proteção e diminuir os fatores de risco. Contemplando, assim, as determinações da Lei 10.216/01 e a III Conferência Nacional de Saúde Mental.
Nota da Comissão Organizadora
Você encontrará neste livro todos os resumos enviados para apresentação durante o III Seminário Gente Crescente. A seqüência de resumo segue ordenação alfabética do título do trabalho oral ou pôster.
Bem – vindo ao III Gente Crescente.
CAPSi Água Viva
Comissão Organizadora:
Presidente: Kelem Darc
Vice-presidente: Isabel Ferradans
Primeira-secretária: Márcia Kafuri
Comissão científica e segunda-secretária: Fabiana Gauy
Comissão Organizadora da I Roda de Oficinas:
Cristine Santiago
Íris Pereira de Oliveira
ÁGUA VIVA, DE AMBULATÓRIO A CAPSI (Fabiana Gauy & Márcia Kafuri - CAPSi Água Viva)
A Unidade de Saúde Mental Água Viva surgiu em 1994, a partir de uma proposta conjunta da Secretaria Municipal de Educação e de Saúde para atender a clientela infanto-juvenil. Posteriormente passou a ser administrado apenas pela Secretaria Municipal de Saúde, e como até em torno de 1999 era o único serviço de saúde mental da prefeitura, houve uma ampliação ao atendimento de adultos. Após a municipalização em 1999 o então ambulatório partiu para defesa de voltar a atender sua clientela original. Foi realizado na época um levantamento do perfil dos usuários que eram prioritariamente crianças e adolescentes. Para este levantamento foram analisadas em 7 categorias: procedência; idade; sexo; queixas; encaminhamento para a psicologia; renda familiar; e encaminhamento pela triagem. Nessas categorias concluiu-se que o fluxo maior era da cidade de Goiânia (84,8%); com faixa etária de 8 a 10 anos (38,2%); do sexo masculino (58%); queixas de problemas de comportamento (25%) e dificuldades de aprendizagem (15%); encaminhados pela escola (18,4%) ou posto de saúde (16,4%). Apesar de desde 1994 sermos uma unidade de saúde mental voltada à criança e ao jovem, apenas em 2000, a unidade foi inscrita no Ministério de Saúde como instituição infanto-juvenil (CAPSi). As diretrizes de funcionamento do agora Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil – CAPSi Água Viva estão sendo estabelecidas gradualmente, conforme a demanda. As principais normas regulamentadoras dos CAPSi são a Lei nº 10216 - de 06 de abril de 2001 e as seguintes portarias: nº. 336/GM - 19/02/92; nº. 189/SAS/MS – 20/03/02; e portaria nº.1174/GM – 07/07/05. Conforme descrito, vê-se que a ação dos CAPSi em todo Brasil, apesar de regulamentada, ainda não está totalmente delimitada, pois ainda estamos em fase de levantamento da demanda e das soluções mais eficazes para garantir o que está disposto no ECA. Assim, temos estabelecido em lei que somos dispositivo estratégico no ordenamento da rede de atenção integralizada, buscando ações conjuntas - multissetoriais -, articuladas e harmônicas, de responsabilidade tanto dos órgãos governamentais quanto de entidades civis, da sociedade, e da família. A esta, cabe acolher o usuário em casa, acompanhá-lo em suas necessidades, mas sem tomar dele o poder de escolha e a oportunidade de emancipação, na medida do possível. À comunidade cabe destinar-lhe um lugar para exercer a autonomia, para que ingresse no mercado de trabalho, instigando sua auto-estima, deixando que exercite direitos para que assuma deveres, no sentido de resguardar a comunidade que o acolhe. É passada a hora de cada um de nós assumir sua parcela da responsabilidade, abrigando esta cota tão estigmatizada da população e, conseqüentemente, resguardando-nos das retaliações comuns aos que têm seus direitos desprezados, a dignidade esmagada pelo descaso, a aflição imposta pela quase não-existência em comunidade. Lembremo-nos de que somos todos peculiares sob a igualdade aparente, e que devemos ser respeitados nisto também. Esta causa é de todos nós, basta abrirmos os olhos e juntarmos as forças para construir um mundo mais justo e mais humano.
Palavras-chave: ambulatório de saúde mental, CAPSi, integralização, discussão multilateral, responsabilização pessoal.
ATIVIDADES REALIZADAS NA ASSOCIAÇÃO GOIANA DE SURDOS E ESCOLA ESPECIAL ELYSIO CAMPOS (Edriane Rodrigues Boa Ventura & Juliana Soares Dias – Associação Goiana de Surdos)
Existem no Brasil 24 milhões de pessoas com necessidades especiais que significa 14% da população. Dentre estas 5,7 milhões são pessoas com deficiência auditiva (censo IBGE, 2000). Por meio da Lei 10.098 de 19/12/2000, o Brasil se adequou às políticas das Nações Unidas, de igualdades de oportunidades. Essa lei preconiza o uso de legendas em correspondência ás informações sonoras produzidas, principalmente para programas de televisão e teatro, visando permitir o acesso diferenciado por deficientes sensoriais auditivos. Esta tecnologia, inacessível ainda aos deficientes auditivos brasileiros, visto que eles têm grandes dificuldades em ler e entender a língua escrita. A Associação dos Surdos de Goiânia acredita, que através da estimulação na melhoria de sua forma de comunicar e trabalhar, a pessoa surda dará um grande passo para eliminar as barreiras. Essa está registrada no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e oferece os seguintes atendimentos: (a) Integração Social através da dança, coral, teatro, iniciação esportiva (participação em campeonatos Nacionais e Internacionais); (b) Curso de LIBRAS; (c) Apoio pedagógico para alunos matriculados em escolas regulares e preparatórios para o Vestibular; (d) Cursos Profissionalizantes (Costura, Serigrafia, Marcenaria e Informática); (e) Disponibiliza Intérpretes para eventos, (f) Possibilita o funcionamento da Escola Especial Elysio Campos que dá assistência a 537 alunos sendo estes ouvintes e surdos (ensino fundamental e médio); (g) Atendimentos com os seguintes profissionais: Assistente Social, Fonoaudióloga, Psicóloga e encaminhamentos para médicos e odontólogos. A clientela dessa instituição é constituída por pessoas com perda auditiva (independente do nível), acima de 12 anos, e seus familiares. As atividades psicológicas desenvolvidas têm como objetivo estimular e capacitar o individuo surdo para a verdadeira inclusão, possibilitando assim a sua independência e a integração. Dois tipos de atividades psicológicas são realizados: atendimento Clínico e psicologia escolar/educacional. Com relação ao primeiro são realizadas anamneses e os procedimentos terapêuticos são montados com base na teoria cognitivo-comportamental. As atividades relacionadas com a psicologia escolar/educacional são subdivididas: (a) com os alunos, são trabalhados temas diversos da atualidade (Drogas, Sexualidade, Notícias Atuais, Habilidades Sociais, dentre outros), bem como atividades desenvolvidas junto com profissionais de Educação Física que exploram a cultura corporal (psicomotricidade); (b) com os professores, grupo de estudos e vivências que auxiliam a relação professor-aluno. Os atendimentos individuais são dez por semana, e nos grupos pequenos são atendidos em média 86 alunos. Os encaminhamentos para os atendimentos individuais são realizados ou pela Assistência Social ou pela Coordenação da Escola. A equipe geral desta instituição é composta por pedagogos, assistentes sociais, telemarketing, costureiras, marceneiro, interpretes, psicólogos, funcionários administrativos e professores de áreas (biologia, português, matemática, educação física, dança, xadrez, física, química, geografia, história, artes, filosofia, sociologia, ensino religioso e LIBRAS).
Palavras-Chaves: surdos , socialização , inclusão - RO
OS PAIS COMO ALVO DE INTERVENÇÃO (Rômulo Chaul Filho– CAPSi Água Viva/ NECASA –UFG)
Situar a família historicamente na contemporaneidade remete-nos a pensar a família como crise e como possibilidade de intervenção clínica. A crise que mais chama a atenção diz respeito a segurança dos filhos e suas relações com os pais.Se antigamente estar em casa significava estar protegido, hoje a insegurança está dentro de casa. Os filhos são vítimas de maus tratos, de abuso sexual, violência física-psicológica.... pelos membros da própria família.Fica difícil discernir, caracterizar o que é afeto, ternura, carinho, amor desprovidos de desejos sexuais, de perversões sexuais. Há a predominância do mais forte sob o mais fraco. A lei do silêncio, no caso de abuso sexual, impera, em função da coação, das reprimendas, da violência física-psicológica. Os filhos perderam a ternura dos pais.O carinho evolui facilmente para o contato físico de filhos e progenitores do sexo oposto. Os segredos diluiram-se nas relações interpessoais de pais e filhos; a intimidade ruiu e o distanciamento de pais e filhos parece crescer assustadoramente na atualidade. O grupo de pais do Capsi- água viva surgiu como uma possibilidade de compreender, de dar vazão a estas contradições da contemporaneidade. As dificuldades dos filhos passam a ser dificuldades do grupo, assim como suas possíveis soluções. O grupo de pais ajuda-nos a vivenciar as diversas distorções decorrentes da dinâmica familiar de cada membro constitutivo, criando uma ressonância entre os membros do grupo. Pensamos na idéia do paciente como agente de sua própria transformação e de sua família. A metáfora utilizada é a lente dos pacientes. A experiência de cada membro do grupo vivida, percebida, pensada de forma coletiva. Observamos neste processo de interação grupal o fenômeno da transferência. A visão do terapeuta é concebida de acordo com cada paciente, propensa a distorções decorrentes da evolução de cada membro, coloridas pelas relações interpessoais vividas.Assim os pacientes percebem uns aos outros de forma diferente, interpretam de formas diferentes sentimentos atos, desejos, palavras. A linguagem é reinventada a cada momento propiciando trazer o passado, os traumas psíquicos para o presente vivido.
Palavras- chave: intervenção grupal, família e CAPSi.
REDE – INTERSETORIALIDADE : O QUE SÃO E COMO INCIDEM NO CAMPO ASSISTENCIAL DA SAÚDE MENTAL? (Maria Cristina Ventura Couto – Ministério da Saúde)
O conceito de rede tem sido, ao longo da história mais recente da saúde mental, um operador central das ações de cuidado. Desde 2002, este conceito integra a base normativa da saúde mental pública, através das determinações da Portaria 336/2002, que determina aos CAPS a função de ordenador da rede de cuidados em saúde mental no âmbito de seu território.Entretanto, sua definição, e mesmo suas descrições, podem encontrar entre os agentes do campo formulações diversas, com conseqüências também diversas em sua operacionalização. No que diz respeito às proposições da política de saúde mental para crianças e adolescentes, o conceito de rede vem orientando um modo de operação do cuidado e de articulação interinstitucional e/ou intersetorial que tentaremos expor a seguir: (a) rede supõe um processo. Ou seja, sua positividade depende de estar em permanente construção. Desta forma, “construir rede” – fala recorrente no campo – não visa em si uma materialidade, onde um conjunto de dispositivos estaria à disposição dos operadores para referência e contra-referência dos casos atendidos. A idéia de construção de rede tem relação direta com a concepção de clínica que orienta o campo público da saúde mental. Nesta concepção, as particularidades de cada caso são os determinantes para a construção de sua rede de suporte. Nessa rede podem coexistir desde os recursos formais de um território até os recursos laicos, se a clínica do caso assim o determinar. A rede, então, nunca estará pronta porque nunca se poderá saber de antemão o que um certo caso demandará como suporte; (b) a rede é aberta. Essa imagem da rede é consoante com seu caráter processual e tem como conseqüência operacional a necessidade de novas invenções a cada situação que se apresente; (c) a rede tem nós. Estes são os pontos de ancoragem da rede e que lhe conferem “concretude”. Os nós da rede podem, para muitos casos, coincidir com as instituições/serviços disponíveis e, desta forma, se destaca a importância delas na construção de uma rede. Entretanto, a existência de serviços formalmente implantados num dado território não garante a vigência de uma rede; (d) a rede não opera a partir de uma racionalidade em si. Sendo ela processual, aberta e ancorada em pontos nem sempre institucionais, a orientação da rede não pode ser dada por uma racionalidade em si que, em exterioridade ao próprio processo, lhe conferiria legitimidade. A idéia de rede supõe, então, a intervenção de uma presença viva em sua construção. Ou seja, há um ponto de ancoragem dela que não se situa no mesmo patamar dos demais e que será o responsável pelo primeiro tempo de sua construção, integrando a seguir sua própria composição. É a tomada de responsabilidade que diferencia este primeiro tempo de construção de uma rede, dando vivacidade à presença e estendendo-se como única condição de possibilidade para uma rede efetiva à todos os nós que vierem a compor sua “concretude”. A determinação normativa que confere aos CAPS a função de ordenadores da rede pode ser tomada como intrinsecamente ligada a esta idéia, ou seja, espera-se que os CAPS possam funcionar como “motor” ou como “usina” de uma rede, em um território, para um certo caso, a partir de sua orientação ética quanto à tomada de responsabilidade. Entretanto, a “presença viva” não se confunde com o CAPS. Ela pode ser encarnada por qualquer dispositivo/agente desde que imbuído pelo princípio ético da responsabilidade e pela dimensão clínica, única dimensão que particulariza o mandato da saúde mental dentre os campos discursivos e de práticas legitimamente disponíveis na cena social; (e) a rede é sempre ampliada. Por questão de coerência interna, nenhum dos pontos de ancoragem da rede pode se constituir como total, outorgando a si a capacidade de encerrar o suprimento das necessidades de um certo caso. Nesse sentido ela é por natureza ampliada. Em relação ao cuidado de crianças e adolescentes, para além das questões de coerência interna, é preciso destacar o fato de que, no processo de sua constituição, uma criança é atravessada por diferentes discursos (jurídicos, familiares, educacionais, psicológicos, culturais, etc) frente aos quais é preciso atuar, afetando-os sem descaracterizá-los, para que nos vazios de seus entrecruzamentos se destaque a criança mesma, com suas particularidades, idiossincrasias e tudo o mais que lhe confere humanidade/subjetividade. A intersetorialidade integra o conjunto de diretrizes da política oficial do Ministério da Saúde para a área da saúde mental e vem ganhando destaque no trabalho dirigido a crianças e adolescentes . Esta noção é uma conseqüência inevitável da definição da rede como sendo sempre ampliada, já apontado anteriormente. Os efeitos do trabalho intersetorial são visíveis no caso de crianças e adolescentes que demandam, recorrentemente, por parte das equipes manter aberto o canal de articulação com abrigos, juizados, conselhos tutelares, escolas, etc. para efetivação de um projeto de cuidado resolutivo que implique, de forma responsável, todos os seus agentes. Algumas questões, entretanto, requerem maior aprofundamento: o que pode sustentar uma direção partilhada entre setores cujos mandatos são tão diferentes entre si? Qual a especificidade da saúde mental na ação intersetorial?
Palavras-chave: rede, intersetorialidade, saúde mental.
TÉCNICAS LÚDICAS DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA COM CRIANÇAS SUBMETIDAS AO TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA (Andréa Lino e Silva Cunha* & Patrícia Marinho Gramacho**)
A pediatria moderna já reconhece a necessidade da criação de serviços especializados de atenção à saúde da criança, a preocupação com a redução dos períodos de isolamento e internação e de restrição da mobilidade, bem como os esforços na criação de ambientes mais adequados às atividades infantis habituais. Uma criança com uma doença crônica como o câncer, que necessita de visitas regulares ao hospital, pode encontrar dificuldades na sua vida social e familiar, tais como a necessidade de se adaptar aos novos horários, confiar em pessoas até então desconhecidas, receber injeções e outros tipos de medicação, ter que permanecer em um quarto, ser privada de atividades de brincar etc. Os efeitos dessa adversidade podem se fazer sentir de forma ainda mais intensa, quando o tratamento tiver uma indicação para realização de um transplante de medula óssea. O Transplante de Medula Óssea (TMO) consiste num procedimento por meio do qual se realiza uma infusão intravenosa de células progenitoras hematopoiéticas para restabelecimento da função medular em pacientes com alterações ou anormalidades na medula óssea. Estudos na área de psico-oncologia pediátrica têm demonstrado a importância do uso de recursos lúdicos como jogos, brinquedos e brincadeiras no contexto de tratamentos de saúde, apontando o brincar como ação de grande valia no processo de humanização do contexto hospitalar, porém poucos têm sido os estudos para avaliação desses efeitos em contexto de TMO. O desenvolvimento de brincadeiras, brinquedos e jogos recreativos específicos que invoquem situações semelhantes às proporcionadas por eventos médicos; vídeos que auxiliem a equipe de saúde a comunicar idéias e informações concernentes à doença e/ou seu tratamento; livros de histórias infantis e/ou manuais educativos que se prestem ao papel de instrumentos auxiliares no processo de compreensão da situação em que se encontra o paciente, dentre outros, são alguns dos tipos de intervenções que têm sido descritos pela literatura. Neste trabalho, investigou-se os efeitos produzidos pela aplicação de atividades lúdicas para se trabalhar questões apresentadas em situações de indicação e posterior isolamento para realização de transplente. Buscou-se compreender de que forma a apresentação desses recursos poderiam auxiliar o paciente e seu acompanhante a enfrentar todos os estressores relacionados ao procedimento durante os períodos de antecipação, preparação, isolamento, transplante propriamente dito, período de espera, eventual ocorrência da doença “enxerto contra hospedeiro”, preparação para alta e pós-transplante. Observou-se que – embora se enfrente condições intensas de confinamento, angústia diante da espera e tudo isso em meio a um ambiente frio dentro da Unidade de TMO – é possível oferecer um atendimento humanizado e de qualidade para as crianças internadas, na tentativa de amenizar o sofrimento causado pela própria doença. Foram acompanhadas 10 crianças com idades entre 3 e 10 anos, submetidas ao TMO no Hospital Araújo Jorge e que tiveram suas brincadeiras analisadas e relatadas ao longo do trabalho. Os dados colhidos demonstraram que as condições emocionais da família na etapa prévia ao transplante são fundamentais para a integridade psíquica tanto do paciente quanto de seu acompanhante durante a internação na Unidade de TMO. A intervenção psicológica completa, que envolve desde a avaliação prévia até o preparo para a alta, se mostrou extremamente valiosa para atendimentos mais icazes e bem-sucedidos.
Palavras-chave: humanização da pediatria, brincar no hospital, transplante de medula óssea. RO/PE
*Psicóloga e ex-estagiária do Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital Araújo Jorge da Associação de Combate ao Câncer em Goiás.(mailto: andrealinocunha@hotmail.com)
**Supervisora do estágio supervisionado I e II. Psicóloga do Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital Araújo Jorge. (mailto: patgramacho@click21.com.br)
TRABALHO INFANTIL E SOFRIMENTO ÉTICO-POLÍTICO (Sônia M. Gomes Sousa – Universidade Católica de Goiás –PSI/IDF)
Esta fala pretende apresentar os estudos e pesquisas realizadas e/ou coordenados por mim com crianças e adolescentes trabalhadoras das camadas populares. Refiro-me especificamente a duas pesquisas: “Trabalho infantil: a negação da infância. Estudo dos significados do trabalho para crianças trabalhadoras” e “Trabalho doméstico e adolescência: sentidos e significados”. Estas duas pesquisas nos possibilitam empreender um aprofundamento dos sentidos e significados atribuídos por crianças/adolescentes trabalhadoras (serviço e/ou trabalho doméstico) em suas vidas. Ao mesmo tempo ratifica as pesquisas e estudos brasileiros que apontam o trabalho precoce como penoso, cansativo, vazio e que impede o crescimento e amadurecimento psicológico e social destas crianças/adolescentes. Na perspectiva teórico/metodológica utilizada o trabalho infantil constitui-se em um exemplo privilegiado da tensão dialética inclusão e exclusão social à medida em que o trabalho que as crianças executam não as leva a um crescimento e/ou aprefeiçoamento humano, mas a insatisfação ao cerceamento de seu próprio desenvolvimento e à impossibilidade de construção de sua cidadania, por se acharem inseridas em relações produtivas marcadas pela miséria, pela exploração e pela limitação de oportunidade de aprendizagem e transformação. Ou seja, trata-se de uma forma de trabalho de caráter explorador, obrigatório, imposto pela miserabilidade do país e a conseqüente pobreza das famílias. A subjetividade das crianças e adolescentes pesquisadas nos possibilita qualificar os sofrimentos vivenciados como ético-políticos (SAWAIA) à medida que eles são expressão de uma dada sociedade e dos impedimentos impostos a determinadas parcelas da população, no caso, crianças e adolescentes. Estes estudos assentam-se na opção política pela busca de conhecimentos e teorias emancipadoras e humanizadoras da infância, que sejam sensíveis aos anseios, necessidades, dificuldades e desejos das crianças situadas sócio-historicamente. Só assim será possível provocar rachaduras na muralha de conhecimentos monolíticos, fossilizados e ideológicos sobre a infância e abrir novas perspectivas de se estudar os fenômenos psicossociais referentes à infância e intervir nas políticas públicas para a infância brasileira.
Palavras-chave: trabalho infantil, sofrimento ético-político.
TRANSTORNOS MENTAIS E VOZ: UM OLHAR FONOAUDIOLÓGICO (Kelem Darc de Santana – CAPSi Água Viva)
O estudo científico da voz transcende o foco da persuasão para uma visão dialética entre falante e ouvinte, numa proposta de comunicação dialogada e envolve os aspectos físico, psicológico e social do indivíduo. Mas não foi sempre assim. Embora a voz humana sempre tenha despertado interesse, nas referências encontradas tanto de HIPÓCRATES (séc. V a.c.) primeira citação a respeito da qualidade vocal como ARISTÓTELES (350 a.c) primeiro a escrever um tratado sobre voz (CHUN et al, 2000), havia uma tendência à valorização da fala como arte, centrada na habilidade de persuadir o ouvinte. Tanto que os gregos davam à voz, no teatro antigo, uma importância enorme, não só como projeção mas como modulação, timbre e demais componentes do som humano. Somente em 1933 os problemas de fala são referidos como primeiros sintomas dos transtornos mentais por STINCHFIELD e, embora sejam escassas as referências a respeito dessa temática, tem este trabalho o objetivo de apresentar a relação voz X transtornos mentais a partir do ponto de vista fonoaudiológico. Na Antigüidade, na alta Idade Média, a laringe era considerada um órgão vinculado à alma. A relação emoção - voz foi encontrada nas lendárias mitologias. A voz humaniza e socializa o ser que, enquanto físico, psicológico e social é homem e “O homem, antes de falar, não o era” (BLOCH, 2002, p. 55). É através da voz que desde o nascimento o ser humano manifesta suas emoções, expressando-se vocalmente de maneiras diversas. A VOZ, manifestação da personalidade humana, tão individual como é o próprio homem, permite a ele a busca e a conquista de seu espaço. As várias nuances da voz (se é fraca ou forte, aguda ou grave, rouca ou nasal), expressam a história de vida do indivíduo que aprende, imita, refaz e aperfeiçoa a sua identidade vocal. Enquanto identidade vocal, a voz remete aos sentimentos que provoca no outro e sua relação com traços da personalidade do ouvinte. Na esfera psiquiátrica, as alterações de voz podem ser encontradas nos seguintes quadros, como descritos por AZEVEDO, BEHLAU, BORTOLOTTI e REDHER (2005): transtornos do humor (depressivos e bipolares), dependência e abuso de substâncias, transtornos de ansiedade (pânico e ansiedade generalizada), esquizofrenia, demência, transtornos alimentares (anorexia e bulimia) e somatoformes.
Palavras-chave: transtornos mentais, transtornos da comunicação, fonoaudiologia.
VIOLÊNCIA FÍSICA CONTRA CRIANÇAS: RISCOS E DISFUNÇÕES (Maria Aparecida Alves da Silva*- Faculdade de Educação –UFG)
A exposição do tema “Violência física contra crianças: riscos e disfunções” tem como objetivo apresentar os danos causados à integridade física e mental de crianças e de adolescente oriundos da prática da violência física. De acordo com dados do Conselho Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB, 1999) 18 mil crianças são espancadas por dia no Brasil. 6.570.000 crianças são vítimas de espancamento por ano em nosso país. Nas urgências dos hospitais do Brasil 10% das crianças que se apresentam com menos de 5 anos são vítimas de abuso físico. Os avanços tecnológicos e a ampliação do acesso da população aos bens e serviços na área da saúde revelaram uma trágica realidade: a da violência como uma das principais causas de morte e agravos entre crianças e jovens. Após um ano de idade as causas externas são os principais determinantes de morbi-mortalidade em nosso país. A violência física contra crianças é um fenômeno histórico. Os registros escritos ou os artefatos arqueológicos demonstram como é antiga essa prática. O primeiro estudo que identificar a violência, seja física ou sexual, como causa de óbito de crianças foi realizado por Ambroise Tardieu em 1860. Mas só no século seguinte a gravidade da prática de violência física contra crianças é reconhecida. Os trabalhos de Silverman e kemple iniciados em 1962 identificam o que eles denominaram de “Síndrome da Criança Espancada”. Como em toda prática existe uma teoria implicada (Charlot, 2005), essa exposição busca mostrar em quais conceitos a prática da violência física está alicerçada. Qual a visão de homem, de sociedade, de infância e de educação que sustenta a prática de violência física contra crianças. E por fim são apresentadas pesquisas (Assis, Azevedo, Guerra, Gomide, Melo, Marques, Strauss e Theicher) de autores nacionais e internacionais que demonstram as conseqüências negativas que a prática da violência física acarreta no desenvolvimento físico e mental de crianças e adolescente.
Palavras-chave: violência física, criança.
VIOLÊNCIA SEXUAL DOMÉSTICA: UMA EXPERIÊNCIA DO CAPSI ÁGUA VIVA (Maria Luzia de Araújo Barbosa & Marília de Fátima Chaves Paiva - CAPSi Água Viva)
A violência sexual doméstica integra um conjunto de abusos/maus-tratos que uma criança pode sofrer. Consiste em uma forma extrema de abuso sexual. Ocorre dentro da própria família entre uma criança ou adolescente e um adulto que tenha laços tanto de consagüinidade como de afinidade. É uma prática permeada pelo pacto do silêncio e infelizmente ainda bastante subnotificada. As famílias nas quais o abuso sexual ocorre, são caracterizadas por um sistema no qual existe uma grande confusão de papéis, o afeto é erotizado, a comunicação não é clara, existe uma aparente coesão e uma organização mantida pelo segredo.Tem grande impacto sobre a vida e desenvolvimento da criança, trazendo consequências emocionais, interpessoais, comportamentais, conginitivas e físicas. Em 2005, foi realizada pesquisa no Capsi Água Viva (SMS), com o objetivo de analisar as características das crianças e adolescentes com demanda de violência sexual, no período de janeiro/2000 a dezembro/2004. Foram analisados 123 prontuários, 67,75% do sexo feminino e 32,25% do sexo masculino. Os resultados mostraram que crianças com idade entre 7 e 9 anos (30,90%) e de 10 a 12 anos (21,14%) foram as mais atingidas. A maioria das vítimas pertenciam a classe social baixa (65,04%). A maior parte dos agressores compunham núcleo familiar (40,87%), sendo o pai (33,93%) e o padrasto (28,57%). Alto número de queixas foram relatadas mostrando a gravidade da situação vivenciada pelas famílias e crianças. A identificação/diagnóstico da violência sexual doméstica deve ser multiprofissional, envolvendo instituições de atendimento jurídico, social, médico, terapêutico e também a comunidade. A intervenção psicossocial é a mais indicada para o enfrentamento do problema, sendo imprescindível focalizar no aspecto da prevenção como forma de construção de uma cultura de proteção e respeito aos direitos da criança e do adolescente.
Palavras-chave: violência sexual, capsi, intervenção psicossocial
TRABALHO INFANTIL. (Katleem Marla Pires de Lima – Delegacia Regional do Trabalho).
O que vem a ser o trabalho infantil? Quais os espaços em que se realiza? Para onde leva as nossas crianças o trabalho que hoje lhes ocupa o tempo de aprender e brincar?A realidade do trabalho infantil funciona como uma cortina aos abusos e violências contra crianças e adolescentes em Goiás e no Brasil. Violência perpetuada pelo próprio Estado, que não promove condições de acesso à educação e à saúde de forma mínima a todas as crianças. Violência da sociedade que tolera e fomenta o trabalho infantil, vez que não se organiza como instrumento de controle social cobrando do Estado em todos os níveis da administração a garantia dos direitos fundamentais às nossas crianças e adolescentes. Violência da família, que transfere aos seus pequeninos a obrigação que lhe cabe de promover a sobrevivência. Violência de todos que não querem ver trabalho infantil está sendo não só consome a infância das crianças pobres, mas também aniquila suas chances de futuro. Contrariando os propósitos das Convenções 138 e 182 da Organização internacional do Trabalho, a manutenção de crianças e adolescentes em atividades laborativas os afasta do humano direito ao não trabalho e a vivência de uma infância plena. Subverte a ordem natural onde ao Estado, a família e a sociedade são os responsáveis pela promoção de condições de trabalho e renda adequadas á sobrevivência das pessoas, transferindo covardemente este imenso desafio para as mãos de crianças e jovens, já violentados pela miséria que os cerca. A tolerância ao trabalho infantil assenta-se na conveniência da sociedade como um todo, vez que admiti-lo como alternativa de renda para as famílias pobres é mais cômodo do que se elaborar políticas responsáveis e permanentes de geração de trabalho e renda, além de acesso a uma educação capaz de habilitar de forma suficiente todos os indivíduos ao mundo do trabalho, independentemente de seu extrato social. Faz-se necessário a desconstrução de todos os mitos que sustentam como válido o trabalho infantil e este trabalho de descontrução significa um enfrentamento corajoso do que existe dentro desta realidade. Significa que a sociedade, o Estado e a família terão que substituir a atual e mórbida letargia por atitudes propositivas e assertivas, sobretudo permanentes, de construção de uma realidade capaz de tornar concretos todos os direitos reconhecidos pela Constituição Federal em seu art.227. Exige que tenhamos que adotar uma postura madura no desenvolvimento de ações políticas voltadas á proteção integral de nossas crianças e adolescentes, sobretudo no enfrentamento responsável e permanente das causas que condenam nossos jovens e crianças à permanente miséria. As soluções imediatistas e simplórias traduzidas em programas de transferência de renda, embora se prestem a um socorro imediato da premente miséria da população que atendem, não atuam como instrumentos eficazes de transformação das condições que levam nossas crianças ao mundo do trabalho em detrimento de uma oportunidade de educação com qualidade.A prosperidade de uma nação não pode assentar-se no sacrifício de suas crianças pobres, até por que este modelo já se mostrou falido. O desenvolvimento das nações, como bem mostra a história passada e recente, assenta-se na produção de conhecimento sendo este em todos os tempos o produto humano mais valioso.
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